Aos 31 anos, Daiane Menezes Rodrigues, conhecida como Daiane Bagé, ganhou o mundo. Pela primeira vez um time de futebol feminino brasileiro ganhou o Mundial de Clubes, em 2014. A equipe é o São José, do qual Daiane é zagueira. Mas antes sua vida passa pelos bairros Balança e Habitar Brasil e pela equipe bajeense Celeste, onde seu talento foi descoberto.Atualmente, a jogadora mora em São José dos Campos, junto com a mãe, uma irmã, dois sobrinhos e o cunhado. Além do futebol, Daiane é empreendedora. Montou uma pastelaria, gerando empregos para a própria família e tem ali uma garantia de futuro, já que o futebol profissional não é para sempre.
As raízes
Desde pequena, Daiane e um dos irmãos eram acostumados com o futebol: "Nosso pai ia jogar todo o final de semana e sempre nos levava. Na escola, eu tinha um professor que incentivava muito que praticássemos todos os esportes. Eu jogava de tudo. Quando concluí a 8ª série, optei por continuar jogando futebol de salão", relembra.
Foi aí que ela entrou para a Celeste, clube de futebol de salão, em Bagé, que mantém um time feminino. Foi em um amistoso contra o Brasil de Pelotas que as oportunidades de transformar o gosto pelo futebol em carreira iniciaram. "Eu e mais cinco meninas fomos convidadas para disputar o campeonato gaúcho pelo Brasil. Na época, minha família não tinha como me sustentar em Pelotas ou me mandar para lá. Mas uma destas meninas que foi chamada era filha de um dos patrocinadores da Celeste. Então ele me levava junto para os jogos, enfim, me deu muito apoio e eu pude jogar", recorda.
A ascensão
No campeonato gaúcho em que defendia a camiseta do Brasil de Pelotas, Daiane e mais duas jogadoras chamaram a atenção do Grêmio. Ali, ela jogou dois anos e se tornou zagueira: "Eu era volante. Mas durante o campeonato, a zagueira do time se machucou e não voltaria. Aí me colocaram naquela posição, onde permaneço até hoje. Então surgiu a minha primeira oportunidade na seleção brasileira", rememora.
Pela seleção, Daiane jogou na categoria sub-19 e logo subiu para a categoria profissional. Em 2002, saiu do Grêmio e foi jogar no São Bernardo, time de São Bernardo do Campo, em São Paulo. Lá ficou por três anos até fechar contrato com o Botucatu. Em 2010 ela foi contratada pelo São José, onde permanece até agora. Já foi convocada diversas vezes para a seleção brasileira e já ganhou inúmeros títulos em todas as esferas do futebol.
Há pouco tempo, Daiane chegou a ser convidada a jogar na Liga Americana, nos Estados Unidos. "Optei por ficar, pois tenho a minha vida aqui. E a proposta não era tão atraente assim, e aqui tenho boas condições", afirma.
O futuro
Além do futebol, a craque bajeense se dedica aos negócios. Ela montou uma pastelaria em São José dos Campos, onde ela, a mãe e a irmã trabalham. "Não posso depender só do futebol. Eu saio do treino e venho ajudar nos pastéis. Felizmente consegui juntar um dinheirinho, arrumei a casa da minha mãe em Bagé e montei o negócio. Espero ainda melhorar mais a vida da minha família", sentencia.
A atleta tinha intenção de parar de jogar aos 30 anos. "Já estou com 31 e não consegui ainda. Acho que agora vou até os 35", conta rindo. Mesmo assim, mantém uma rotina rígida: treina duas vezes ao dia, não bebe, não fuma e se mantém sempre em forma.
A família
Durante toda a conversa, cita muito os familiares. Para ela, a pior parte do futebol foi ter que sair de casa sozinha aos 17 anos. "Sou muito apegada à minha família, então eu sentia muita saudade. Ainda bem que consegui trazer alguns deles para junto de mim agora", declara. Mas no início não foi todo mundo que entendeu a opção pelo futebol: "Minha avó não gostava. Questionava minha mãe por que ela me deixava jogar. Mas com o tempo fui quebrando isso. A 'vó' viu que eu tinha futuro, depois ela já dizia que tinha deixar que eu jogasse mesmo, pois era o que eu gostava", recorda a campeã do mundo.
Segundo ela, o apoio de todos foi muito importante: "Nós éramos muito humildes mesmo. Então no começo, meus tios me emprestavam as chuteiras deles para que eu pudesse disputar os campeonatos. E o meu avô também ajudava a comprar o que eu precisava para o esporte", relata.
O futebol
Quem está acostumado a ver o futebol masculino, não imagina que na modalidade feminina é muito diferente. Não há holofotes, nem contratações milionárias. A final do mundial de clubes, último título conquistado por Daiane, por exemplo, nenhuma emissora transmitiu. "Passamos por muitas dificuldades e, pelo que sei, nos outros estados ainda é pior. Tem meninas que nem recebem para jogar. Aqui eu consegui sobreviver e melhorar um pouquinho a vida da minha família", revela. Por isso, afirma que seus ídolos são todas as meninas que se dedicam ao futebol feminino.
Antes de ganhar o mundial, a atleta ficou meses parada, recuperando- se de uma lesão. Voltou para jogar a Libertadores da América, competição que o São José ganhou e se classificou para o Mundial, do qual sagrou-se campeão também.
Bagé
Há quase dois anos, a jogadora não volta a sua terra natal, devido ao calendário apertado. Os planos são de retornar na metade deste ano. "Estou com saudades da minha família e dos amigos do esporte. Todas as meninas com quem comecei a jogar são minhas amigas até hoje. Para a minha cidade, espero que o esporte seja incentivado, pois ele realmente tira criança da rua. Eu poderia ter tomado outra direção, mas o incentivo de um professor mudou o meu rumo", reflete.